Ganhei um livro chamado "Poemas" de e. e. cummings, traduzido pelo poeta concretista, Augusto de Campos. Tenho uma paixão por poesia concreta. Há um verdadeiro artesão do verso, das palavras, atingindo o clímax para os ouvidos, imaginação visual e pensamento. Claro que não poderia ser diferente com cummings, poeta de grande referência na poesia moderna norte-americana. É deveras incrível a capacidade de transgressões tipográficas, semânticas e sintáticas, mostrando o seu desprezo ao conservadorismo. Isso não se pauta apenas na sua genialidade de dar vida aos vocábulos, mas também aos temas que utiliza em seus poemas, como a marginalização das minorias. O que pude perceber é a preocupação do poeta com a percepção e sensibilidade individual.
O livro parte para um poema feito por apenas duas palavras: loneliness(solidão) e a leaf falls(a folha que cai) (que por sinal deu origem ao nome do meu blog). Essas duas palavras representam, através da desmontagem das mesma, uma típica imagem da solidão: a queda de uma folha flutuante. Essa folha é representada pelas consoantes "l" e "f" nas quatro primeiras linhas, na qual a alternância dessas consoantes na "linha" seguinte do poema nos remete ao movimento de uma folha caindo. Quando há uma pausa da folha, na quinta "linha", partindo para um deslizar duvidoso da folha e finalmente chegando ao seu ponto final. O que destaco também é a forma como ele explora a palavra loneliness, acrescentando no poema mais dois significados: one (só) e oneliness (unicidade). Deleitem-se com esse poema que só posso traduzir numa palavra: genial!