quinta-feira, 29 de dezembro de 2011


Quase um pedido e toda a minha incoerência inundariam o tabuleiro que nos cercava. Só um pedido, pra que ficasse ali, inerte. Mas não era o mesmo sentimento de outrora. Não! Havia uma gama de impressões diversas e das piores.  Onde escondera aquele brilho precioso? Por que fragmentar o íntimo da alegria que trazia em suas mãos? Grãos? Pra que, se nada inalteram a balança. Gotas de ( in)conformismo caminharam pela minha face e logo um bafejo me arremessa pra um total desdém. Carregar uma ausência por si era um fardo que minha alma terrivelmente vulnerável já não tinha disposição. Menos mal, todo pensamento veio   à tona no "quase".  As estúpidas ondas sonoras do "porém" certamente me colocaria diante do patetismo.


E tudo é questão de  peculiaridade..



quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

(by Patrícia Basquiat : http//:caixafotografica.blogspot.com)

Mestre das palavras, os concretistas

Espectro da Dor



...sentado, olhando
 teu espelho dentro de mim
vestido com uma plácida armadura
de momentos assutadoramente eufóricos
um negro olhar
e gotas de espanto
uma maldade insaciável
manipulada por uma dor medonha no peito
o teu espelho reflete o vazio
rosas mais terríveis
as sobras de um ramo
que ainda guardo comigo
sentado, esperando que algo passe...

"Ora veja... é o que sempre acontece às pessoas românticas: enfeitam uma criatura, até o último momento, com penas de pavão, e não querem ver, nela, senão o que é bom, muito embora sentindo tudo ao contrário. Jamais querem, antecipadamente, dar às coisas o seu devido nome. Essa simples idéia lhes parece insuportável. A verdade repele-na com todas as forças, até o momento em que aquela pessoa, engalanada por elas próprias, lhes mete um murro na cara."

    [DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Crime e Castigo]



Muitas vezes os poetas descrevem o amor como uma emoção que não podemos controlar, uma emoção que esmaga a lógica e o bom-senso. Comigo foi assim. Eu não planejei me apaixonar por você, e duvido que você também tenha planejado se apaixonar por mim. Mas, assim que nos conhecemos, estava claro que nenhum de nós conseguia controlar o que estava acontecendo com a gente. Ficamos apaixonados, apesar das diferenças entre nós, e quando isso aconteceu, alguma coisa rara e maravilhosa foi criada. Para mim, um amor como aquele só acontece uma vez, e é por isso que cada minuto que passamos juntos ficou gravado na minha memoria. Nunca me esquecerei de um momento sequer.
(Diário de uma paixão)



terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Valsa dos Amantes

Duas cabeças
Quatro braços
Quatro pernas
Um corpo
Compasso binário
Gritos inumanos
Músculos se abraçam
e passos conduziam para o êxtase
transcendendo à paz
É já que reluz o sol
espiando por entre as brechas
a quietude das almas dos amantes




"Don´t worry, spiders,
I keep house
casually."
             (In: The Essential Haiku, 1994)


Tem horas que estamos emocionalmente pressionados por ideias erradas a nosso respeito, nos desvalorizando, nos martirizando, não utilizando nossa força interior, nossa inteligência, nossa capacidade; mas elas estão lá dentro do seu ser, a espera de que perceba e faça uso delas de maneira adequada.




(by Patrícia Basquiat)

Caso

Estúpido acaso

Foi o nosso caso
Que fez caso
e descasou-se.






                                                                                                                 (Photo by Patrícia Basquiat)



Tranco-me e guardo as chaves em bolsos imaginários para não fugir de mim mesma.


Ausência


Sentada à mesa reavivo minhas angústias
A taciturnidade dos objetos me fazem mergulhar no meu segredo
Lágrimas remoinham sobre meu rosto conforme a dor
Minhas retinas auscultam a alma ferida
Em minha solidão repousam promessas
Lembranças são postas na mesa
O meu quintal está povoado de recordações tuas
Apenas saudades, apenas distâncias
E na lentidão dessa inquietude vou cortejando minha solidão


Com terror, Alfred Hitchcock










                                                                     (by Patrícia Basquiat)




Ver somente com os olhos é simples e vão, por dentro é que as coisas são.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Ceia



Hora do ritual,
uma verdadeira pintura da natureza morta
Flores, enfeites, licores
Todo o corpo chupado será repartido
O sangue minguado, bebido
A terra clama pelo seu alimento
Abre as feridas
Dilacera a alma árida
Recusa todo o pecado, as sobras do fim
E o que se vê são olhos regando a terra
Duas luas cheias, exalta-se a fertilidade
A terra fecunda de todas as cores
Brota-se a esperança, o ouro, o turvo
O corpo outrora corroído pela míngua
está em bocas famintas
devorando o desespero humano

domingo, 25 de dezembro de 2011

Ah! Nada melhor que falar de e. e cummings

Ganhei um livro chamado "Poemas" de e. e. cummings, traduzido pelo poeta concretista, Augusto de Campos. Tenho uma paixão por poesia concreta. Há um verdadeiro artesão do verso, das palavras, atingindo o clímax para os ouvidos, imaginação visual e pensamento. Claro que não poderia ser diferente com cummings, poeta de grande referência na poesia moderna norte-americana. É deveras incrível a capacidade de transgressões tipográficas, semânticas e sintáticas, mostrando o seu desprezo ao conservadorismo. Isso não se pauta apenas na sua genialidade de dar vida aos vocábulos, mas também aos temas que utiliza em seus poemas, como a marginalização das minorias. O que pude perceber é a preocupação do poeta com a percepção e sensibilidade individual.
O livro parte para um poema feito por apenas duas palavras: loneliness(solidão) e a leaf falls(a folha que cai) (que por sinal deu origem ao nome do meu blog). Essas duas palavras representam, através da desmontagem das mesma, uma típica imagem da solidão: a queda de uma folha flutuante. Essa folha é representada pelas consoantes "l" e "f" nas quatro primeiras linhas, na qual a alternância dessas consoantes na "linha" seguinte do  poema  nos remete ao movimento de uma folha caindo. Quando há uma pausa da folha, na quinta "linha", partindo para um deslizar duvidoso da folha e finalmente chegando ao seu ponto final. O que destaco também é a forma como ele explora a palavra loneliness, acrescentando no poema mais dois significados: one (só) e oneliness (unicidade). Deleitem-se com esse poema que só posso traduzir numa palavra: genial!


O mundo é feito de ideias