quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

sobre os dois



Eu brotei na sua palavra,
E pelo aceno eu ensaiei as tuas quimeras

Mas nunca me libertei por ti,
E quis estar, e não só neste momento,

Eu germinei através da tua lavra,
E desconfiei da acepção dos rabiscos que

Você me riscou num deslumbramento, me riscou comigo ou por mim.

Talvez você me atravesse
Mas...
Eu estou futuro - e sempre

Eu queria estender toda a sua roupa em cabides
E te despir de todas as certezas.

sábado, 1 de dezembro de 2012

O Diário de Rorschach

12 de outubro de 1985.
Carcaça de um cão morto no beco hoje de manhã com marcas de pneu no ventre rasgado. A cidade tem medo de mim. Eu vi sua verdadeira face. As ruas são sarjetas dilatadas cheias de sangue e, quando os bueiros transbordarem, todos os vermes vão se afogar. A imundice de todo sexo e matanças vai espumar até a cintura e as putas e os políticos vão olhar para cima gritando "salve-nos"... e eu vou olhar para baixo e dizer "não". Eles tiveram escolha, todos. Podiam ter seguido os passos de homens honrados como meu pai ou o presidente Truman. Homens decentes, que acreditavam no suor do trabalho honesto. Mas seguiram os excrementos de devassos e comunistas sem perceber que a trilha levava a um precipício até ser tarde demais. E não me digam que não tiveram escolha. Agora o mundo todo está na beira do abismo contemplando o inferno e os liberais, intelectuais e sedutores de fala macia... de repente não sabem mais o que dizer.

13 de outubro de 1985
Dormi o dia todo. Acordei às 16:37, com a senhoria reclamando do cheiro. Ela tem cinco filhos de cinco pais diferentes. Deve enganar a previdência social. Logo vai anoitecer. Lá embaixo a cidade grita como um matadouro cheio de crianças retardadas. Nova York. Sexta à noite um comediante morreu em Nova York. Alguém sabe por quê. Lá embaixo... alguém sabe. O crepúsculo fede a fornicação e más consciências. Acho que vou me exercitar.
Primeira visita da noite infrutífera. Ninguém sabia de nada. Sinto-me deprimido. A cidade está morrendo de hidrofobia. Será que só consigo limpar a baba da sua boca? Jamais se desesperar. Jamais se render. Deixo as baratas humanas discutindo heroína e pornografia infantil. Tenho assuntos a tratar com outra classe de pessoas.
20:30. Encontrar Veidt me deixou um gosto ruim na boca. Ele é mimado e decadente. Traiu até mesmo suas próprias hipocrisias liberais. Talvez homossexual? Devo me lembrar de investigar mais. Dreiberg não fica atrás. Um fracassado lamuriando-se no porão. Por que restam tão poucos de nós na ativa e sem desvios de personalidade? O primeiro Coruja é dono de uma oficina. A primeira Espectral é uma puta velha e inchada morrendo num asilo na Califórnia. Capitão Metrópolis foi decapitado num acidente de carro em 1974. O Mariposa está num hospício no Maine. Silhouette aposentou-se em desgraça. Foi morta seis semanas depois por alguém querendo vingança. Dollar Bill foi baleado. Justiceiro Encapuzado sumiu em 55. O Comediante está morto. Só restam dois nomes na minha lista. Ambos moram no Centro Rockefeller de Pesquisas Militares. Eu vou até eles. Vou avisar o homem indestrutível que alguém planeja matá-lo.
23:30. Sexta à noite um comediante morreu em Nova York. Jogado pela janela. Quando atingiu a calçada, a cabeça dele entrou no estômago. Ninguém liga. Ninguém além de mim. Será que eles estão certos? Logo vai haver guerra. Milhões vão queimar. Milhões vão perecer de doença e miséria. Por que se importar com uma morte? Porque existe o bem e o mal, e o mal tem de ser punido. Mesmo à beira do fim, isso não vai mudar. Mas muitos merecem punição... e há tão pouco tempo.

16 de outubro de 1985.
Rua 42: seios nus se esparramam de todos os outdoors, de todos os cartazes, sujando a  calçada. Me ofereceram amor sueco e amor francês... mas não amor americano. Amor americano; como Coca em garrafas de vidro verde...eles não fazem mais. Pensei na história do Moloch a caminho do cemitério. Pode ser mentira. Parte de uma vingança planejada durante uma década atrás das grades. Mas, se for verdade, o que significa? Referência intrigante a uma ilha. Também ao Dr. Manhattan. Será que ele corre perigo? Tantas perguntas. Tudo bem. Respostas em breve. Nada é insolúvel. Existe esperança. Enquanto houver vida. No cemitério, cruzes brancas se enfileram, marcas de giz numa lousa gigante. Faço última visita em silêncio, sem alarde. Edward Morgan Blake. Nascido em 1924. Comediante por 45 anos. Falecido em 1985, enterrado na chuva. É o que acontece conosco? Uma vida de conflitos sem tempo para amigos... e no fim só nossos inimigos deixam rosas. Vidas violentas terminando violentamente. Dollar Bill, Silhouette, Capitão Metrópolis... nós nunca morremos na cama. Não é permitido. Algo da nossa personalidade, talvez? Algum impulso animal para lutar e se debater, fazendo de nós o que somos? Não é importante. Fazemos o que deve ser feito. Outros enterram a cabeça entre as tetas inchadas da indulgência e da gratificação, leitões procurando abrigo debaixo de uma porca... e o futuro se avista como um trem expresso. Blake entendia. Tratava tudo como piada, mas entendia. Ele viu as rachas na sociedade. Viu os homenzinhos de máscara tentando remendar tudo... Ele viu a verdadeira face do século 20 e escolheu se tornar um reflexo, uma paródia desses tempos. Ninguém mais viu a piada. Por isso a sua solidão. Ouvi uma piada uma vez: Homem vai ao médico. Diz que está deprimido. Diz que a vida parece dura e cruel. Conta que se sente só num mundo ameaçador onde o que se anuncia é vago e incerto. Médico diz: "Tratamento é simples. O grande palhaço Pagliacci está na cidade. Assista ao espetáculo. Isso deve animá-lo." Homem se desfaz em lágrimas. E diz: "Mas, doutor... eu sou o Pagliacci." Boa piada. Todo mundo ri. Rufam os tambores. Desce o pano.

21 de outubro de 1985.
Saí da casa de Jacobi às 2:35. Ele não sabe nada sobre a tentativa de desacreditar Dr. Manhattan. Foi apenas usado. Por quem? Russos parecem a escolha óbvia: Manhattan e Comediante eram figuras militares importantes. Mas Comediante falou de uma ilha, artistas e escritores vivendo nela. Não se encaixa. Não consigo me concentrar. Cansado demais. Sem dormir desde sábado. Andei pra casa passando por latas de lixo cheias de rumores de guerra, analisando fatos; corpos; motivos... aguardando um lampejo de clareza no mar de sangue.
Acordei às onze com gritos lá fora. Perturbado por ter adormecido sem remover a pele da cabeça. Mais cansado do que imaginava. Devo ter mais cuidado. Do outro lado da rua, garotos com spray desfiguravam prédio abandonado. Memorizei feições e me preparei para o trabalho. Primeiro tirei meu rosto, dobrei e guardei no casaco. Sem face, ninguém me conhece. Ninguém sabe quem sou. Ao sair do quarto, encontrei a senhoria. Queixas de sempre: higiene e aluguel. Havia marcas de chupada no pescoço gordo. Recentes. Ela me lembra minha mãe. Na rua, inspecionei o prédio desfigurado: silhueta na porta, homem e mulher, possivelmente em preliminares sexuais. Não gostei. Faz porta parecer assombrada. Na 40a com a 7a, vi Dreiberg e Juspeczyk saindo do Gunga Diner. Um caso, talvez? Será que Juspeczyk arquitetou exílio de Manhattan a fim de abrir caminho para Dreiberg? Ela também odiava o Comediante. Devo investigar. Entrando no Diner, pedi café e me sentei olhando minha caixa de correio do outro lado da rua. Transeuntes fizeram vários depósitos: papel de bala, jornais, um par de tênis estrangulado pelos próprios cadarços, línguas pendendo horrivelmente. Esta cidade é um animal feroz e complicado. Para entendê-la eu leio seus dejetos, seus aromas, o movimento de seus parasitas... Sentei olhando o lixo e Nova York abriu seu coração.
Alguém tentou matar Veidt. Prova a teoria do "matador de mascarados". O assassino fecha o cerco. Verifiquei mensagens. Bilhete de Moloch. Relacionado talvez? Depois fui recolher rosto no beco. Em frente ao Utopia, polícia prendeu um viciado em KT-285. Estava gritando alguma coisa sobre o presidente Nixon. Sobre bombas. Será que todos enlouqueceram menos eu? Sobre a 40a, um elefante flutuava. Acima dele, satélites espiões invisíveis. Se eles estreitarem seus olhos de vidro, todos vamos morrer. Mundo implacável. Só há uma resposta sadia para ele. O beco estava frio e deserto. Minhas coisas estavam onde eu havia deixado. Esperando por mim. Colocando-as, abandonei o disfarce e voltei a ser eu mesmo, livre do medo, da fraqueza ou do desejo. Meu casaco, meus sapatos, minhas luvas imaculadas. Meu rosto. Tenho três horas antes de encontrar Moloch. Mais adiante, ouvi grito de mulher, primeira nota balbuciante do coro noturno da cidade. Me aproximei. Uma tentativa de estupro/assalto/ambos. Pigarreei. O homem se virou e havia algo gratificante no seu olhar. Às vezes à noite é generosa comigo.

1 de novembro de 1985.
Último registro? Saímos do escritório de Veidt quase meia-noite. Dreiberg, convencido de que Veidt está por trás de tudo, fala sério em visitar a Antártica. A nave dele aparentemente tem condições, mas e nós? Veidt. Não imagino oponente mais perigoso. Se a jornada for possível, rastreá-lo ao seu covil é a única opção. Mas me sinto intranqüilo. Território desconhecido... Ele poderia nos matar na neve. Ninguém jamais saberia... Primeira noite de novembro. Estou com frio. Escritórios abaixo, lajes marcando diariamente milhares de túmulos. Dentro, nos mostradores dos relógios, tão visados quanto celebridades, os ponteiros iniciam as voltas finais. O fim vem a galope, favorecendo a espora, poupando as rédeas. Acho que vamos tombar logo. Veidt é mais rápido do que Dreiberg. Talvez mais do que eu. Voltar da missão parece improvável. Última anotação. Vou mandar o diário aos únicos em quem confio. Digo a Dreiberg que preciso checar minha caixa postal. Ele acredita. Quer eu esteja vivo ou morto, se você estiver lendo isso agora vai saber da verdade: seja qual for a natureza desta conspiração, Adrian Veidt é o responsável. Esforcei-me para ser compreensível. Acredito que tracei um quadro aterrador. Apreciso seu apoio recente e espero que o mundo sobreviva até isto chegar às suas mãos, mas tanques estão em Berlim oriental e o fim está próximo. Quanto a mim, de nada me arrependo. Vivi a vida sem concessões... e agora avanço rumo às sombras sem me queixar. RORSCHACH, 1 de novembro de 1985.


(Watchmen)

sábado, 10 de novembro de 2012

A reação do Diabo ao ver a Humanidade


Na esquina
se encontra a Maldade
Percebendo-se fora de moda
Tão humilhada por lhe terem
Empalmado as funções
  
Antes seria
os Instantes de ostentação
movendo os cérebros
Autônomos do homem

Mas hoje
Não há pra quem doutrinar
As artes do Engano,
da Deslealdade,
da Ilusão...
nem a Culpa é mais sua.

ah os Homens!
os opulentos Homens Aprendidos
aniquilaram o valimento do Diabo
em seus atos

E o macróbio Mestre das Trevas
acostado consternado numa esquina
percebeu o não-ter-objetivo
E receando os seus aprendidos
persignou e suplicou
a Deus
para ir ao seu flanco

Ambos
Retirantes para
O Inexplicável-Existencial
encontram de lá
em contínuos resmungos
Ao Mundo

(escarram!
amaldiçoam!
se abraçam!
se revogam!)


domingo, 21 de outubro de 2012

Pretensão(ou prest'enção!)


Me encare!
Me amordace!
 Não perca o seu tempo cuidando de mim!
Que já sou moça crescida
e tudo que desejo de você é vida!

 Não perca o seu tempo assoprando as minhas feridas!
Que dos meus fundos rasgões
e pequenos arranhões
cuido eu!

 Não perca o seu tempo me dando a sua mão!
Que de você eu não quero resgate
Quero apenas que me mate
Ou então que me assalte a impura alma!

Não perca o seu tempo admirando o meu semblante!
 Já tenho uma tendência narcisista.
Quero que a cara me cuspa!
E que nunca me fale de culpa ou de coisa justa

Já chega! Não me fale do que poderia ter sido...
Não quero saber de intenção boa ou má!
Quero amor, quero vida e quero já!

Mas que ousadia a sua
De querer me tirar da rua...
Quer me salvar?
Se nem mesmo sabe onde sua salvação está!
Se situa...Vá embora e me deixe nua
que já sei me vestir!

Procure o seu caminho
E é esse nosso destino!
Não mais me lastimo da sua boa intenção...
Quer saber de uma coisa?
É muita pretensão!!!

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

De mim, para eu mesma


Inda não sei se me acho, me encaixo ou vivo.
             Quando não digo fica dentro, quando falo vai pra fora.
                                                            E agora o que faço?
 Só digo e repito porque não insisto onde não me encaixo.
                                            Se não me acho, logo desisto!

domingo, 14 de outubro de 2012

O depois da nordestina




"Macabéa é uma inocência pisada, de uma miséria anônima." (Clarice Lispector)

Macabéa se foi...
agora toda vez que chove
é ela que está
em infinitos líquidos
descendo pelo Céu
que nem uma carta prevê sua vinda
Sempre sentira um não-sei-que
mas nunca houvera alguém para entender
quando até Deus se anulava
Ela só fazia chover Olímpico
Agora inunda os pensamentos limitados
(Por que?)
e regurgita ano-luz
hora que a Estrela brilha.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O jogo da vida


"O fluxo do tempo é cruel, para cada pessoa é diferente e ninguém nunca pode mudar , mas uma coisa que não mudam nunca , são as memórias de sua juventude." (Sheik, The Legend of Zelda)

Pensamentos pinkfloydianos...


 "Lá em cima os albatrozes se mantêm imóveis no ar
  E nas profundezas das ondas nos labirintos das cavernas de corais
  O eco de um tempo distante vem magicamente pela areia
  E tudo é verde e submarino
  E ninguém nos mostrou a terra
  E ninguém sabe onde ou porquê
  Mas algo encara e algo tenta
  E começa a subir em direção à luz(...)"


Foto: Se

Se eu fosse um cisne, estaria morto
Se eu fosse um trem, estaria atrasado
E se eu fosse um bom homem
Conversaria contigo mais frequentemente do que faço
Se eu fosse dormir, poderia sonhar
Se eu tivesse medo, poderia me esconder
Se eu enlouquecer, por favor não ponha
Seus arames no meu cérebro
Se eu fosse a lua, eu seria legal
Se eu fosse uma regra, estaria dobrado
Se eu fosse um bom homem, eu entenderia
As distâncias entre amigos
Se eu estivesse só, eu choraria
E se eu estive contigo, eu estaria em casa e seco
Se eu enlouquecer
Você ainda vai me deixar participar do jogo?
Seu eu fosse um cisne, estaria morto
Se eu fosse um trem, estaria atrasado novamente
Se eu fosse um bom homem
Conversaria contigo mais frequentemente do que faço

Beco sem Saída


Aqui estou eu
em meio a encruzilhadas e preocupações.
Trabalhos comprados, horários perdidos,
Não tenho hora marcada.
Aqui me encontro
enquadrada, ao contrário,
perdida, desiludida, estrangeira.
Contrária à multidão, aos pensamentos,
às direções, às empresas,
aos colégios,
aos bancos.
Daí vem o primeiro esbarro.
Depois o segundo
e o terceiro.
Atravessam-me.
Balançam-me.
Sacodem-me os ossos
e os cabelos
que me voam e encostam
no desconhecido ombro vizinho.
"Me desculpe!"
...
e o quarto esbarro chega para finalmente dar lugar ao quinto.
"Me desculpe! Perdão!"
e o sexto esbarro não tarda a sacudir-me.
E se vai, e vão, e vou
e não vou.
Se chegam, se voltam, se vão.
Se encontram, descansam,
ou esperam,
eu não vou.
Mas eu não sei onde ir.
Aqui me encontro
Vou e nunca chego.
E não chego, caminho.
Não sei onde vou.
"Me desculpe!"
"Pisei em seu pé?"
"Mas foi sem querer..."
Não sei onde estou.
Mais um esbarro. Esse doeu.
Pisaram em meu pé.
Não me deixam passar.
E mais um... me derrubam e caio no chão.
Me ergo, me recomponho.
A marca ficou. Sujei a vestimenta caindo no chão.
Permaneço em meio à multidão.
Não sei aonde vão, não sabem aonde vou.
Pouco me importa, pouco importo a eles.
E me estremeço mais uma vez. Assim não dá.
Preciso chegar... Ah, já sei! Estou quase chegando.
Mas... onde estou indo? Não sei.
Aqui estou eu
que não chego nunca,
mas... se chegasse
onde chegaria?

Uma hora eu preciso chegar...

Albert Camus



Olá! Tem alguém aí? Acene se puder me ouvir...
Eu preciso de algumas  informações, você pode me ajudar?
Gostaria que mantivesse um contato “invisual”, pois há uma parte em mim que fracassa ao ver ruas contornadas e derrubadas pelo sono divino.
Observe aquele garoto solitário que acaba de acenar no colo da mãe, e ela ao segurar, usa a outra mão imaginando o que poderá fazer pra conseguir usar as duas.
Ele já entende o adeus, mas os anos surgirão com toda majestade de esquecimento, e eu não posso ficar acordada esse tempo todo, presenciando o esquecimento.
Tenho a sensação de que todas as pessoas estão olhando a grande tela, a grande lente, agonizando como pedido, então desligue a cidade e apague todas as luzes.
Não sustente as praças postas à mesa, pois não possuímos nenhum monumento tão velho assim... Há uma possibilidade de eu ter existido quando eles foram erguidos. Vocês os machucaram, a ferros e cortinas enfeitadas.
Há um clima criado, perfurado, limpo após um bom banho, gelado, corpos quentes, juntos, conscientes da velha ordem. Então apague todas as luzes, talvez isso persista na dor.
Vocês traíram a revolta humana, vocês traíram a tentativa de ajuda entre aqueles amigos.
Vocês destruíram corpos, corpos que não incomodam mais, me ajude a entender isso. Eles precisam desaparecer para os seus dentes aparecerem na última página? Eles não tiveram a oportunidade de ver os fios de cabelo ganhando pigmentos como o seu.
Hoje a doce segunda inverte sua posição, mãos acariciam os braços, mas os dedos se parecem com garras.
Há um parente importunando a pequena garota pensativa, que como um ato de covardia, não move os olhos, não encara aquela demonstração de loucura e realidade. Continua a crer que a realidade tortura mais a invenção do que a própria mente.
Agora a felicidade e a sapiência respondem "Sim Senhor!" ao próprio exército.
Nada será mudado, nem mesmo quando a volta estiver completa.

sábado, 22 de setembro de 2012

O que eu desejaria?

 A primeira coisa que geralmente as pessoas desejam pra gente é que tenhamos dinheiro. Bom eu não desejo, necessariamente, que você tenha dinheiro. Você já reparou que temos mais do que precisamos? Claro, eu e você, todos nós queremos sempre mais. Mas sempre somos da turma dos 99% e agora me responda: isso faz de nós pessoas mais infelizes ou mesmo mais desesperadas como nos sentimos na semana passada? Repare bem nisso.

Eu não desejo, necessariamente, que você tenha saúde. Geralmente é o que colocamos em primeiro lugar. Mas uma coisa é inegável, com saúde ou sem saúde a gente tem que acertar as contas com o resto e este não quer saber se você tem colesterol alto ou não. Você não consegue reparar que isso é que é o belo? Beleza....o modelo da saúde bela está muito aquém de que realmente somos.
 “Sexo também é bom negócio, o melhor da vida é isso é ócio....” É Zeca Baleiro, mas eu também não desejo ,necessariamente, que você tenha sexo. Nada daquele papinho transcendental. Não espere, pois ele não vai te levar a lugar algum. Ah, e vale ressaltar que todos podem fazer sexo, ele não é restrito somente para pessoas bonitas e na “flor da idade”.
Eu não desejo, de jeito nenhum, que você NÃO sofra. As pessoas “modernas” tem um discurso muito igual. Tipo, você tem que ligar pra fulano só depois da 3ª semana, quando na verdade a vontade é de ligar no 3º dia. Qual é o problema de mostrar os bons sentimentos, o apreço? Ninguém tem vergonha de demonstrar o ódio. Mas é aquela velha história de não sofrer. Eu tenho medo das pessoas que dizem que nunca sofreram na vida, isso é filosofia de psicopata. Acho que o mundo já está cheio demais de psicopatas. Então, eu realmente desejo que sofra! Por falta de dinheiro, saúde, sexo ou pelo excesso de tudo isso....apenas, não deixe de sofrer.
A única coisa que eu desejaria a você é que NÃO passasse pela experiência da morte de uma criança. Caso você tenha uma vida inteira sem passar por isso terá a segurança de que algo muito útil para sua vida não será estraçalhado.
 Mesmo você não tendo essa experiência, saberá que outras pessoas hão de tê-la.
E agora você percebe que, mesmo se meus desejos  valessem alguma coisa, não valeriam de nada.



Nós caminhamos e nos afastamos. Essa é a herança do nosso movimento. Mas estamos caminhando num círculo e chegará o momento do ponto de encontro em que a estrela se sobreporá ao sol. E os elementos deixarão de ser vazios.

Complementando o pensamento, assista ao vídeo:




(Poema Pulsar- Augusto de Campos)

quinta-feira, 20 de setembro de 2012


Chegará o dia em que os rugidos serão soltos. Mas será que alguém contará quantas vezes nós fizemos os outros sorrirem ou quantas vezes repousamos os nossos corpos perante outros corpos para idolatrá-los? Mas chegará o dia em que as mãos perderão seus movimentos e não vão mais se direcionar a outras mãos, ou mesmo os pés que não precisarão acompanhar nada, nem mesmo os quadris vão sentir a necessidade de se oferecer a outros quadris. É através da janela ,que entra os agitados raios de luz solar, que se ouvirá o jubilo infernal. A mentira que se criou, quando o fraco temeu o forte, pela palavra e na palavra, será silenciada pelo rugido. E é a partir daí que não mais olharemos aos céus com lágrimas beatas sofridas, nem louvaremos pela fraca condição humana. Não haverá mais longas palavras, nem longas frases, nem ideias que se perdem ao vento, entre um som que emana de cada célula animal e a vontade sem limites e sem razão do amanhã.
Que tudo permaneça contraditoriamente vivo e pulsante! 







Informação = Munição.

E tem muita gente armada por aí.


As Fases da Lua



Caminhando pela densa floresta,
Desfilando sua anomalia encantadora...
Oh, meu Lobisomem!
Por que dilacerou meu coração?
Demonstrei ser um presa tão fácil?
Fomos condenados pelo brilho da Lua
Como eu o amava quando arrancava sua roupas
e lançava sobre mim o seu manto frio
E toda aquele vazio me causava compaixão
Só eu que percebia a sua fragilidade?
Eu ainda me componho pelas fases da Lua
Minha maldita perdição!
Mas não anoitece mais.
Porque os dias se tornaram tão longos?
A forma como você me deixou foi tão espinhosa
Não teve compaixão por mim
Encobriu-se com minha pele me deixando nua
Perante aos meus nervos
Fui revestida pela Dor
Agora toda fase é melancolia!

E pelo lobisomem eu tive compaixão(...)



Me gusta, Jack Kerouac!

Jack Karouack - Frases e citações

Disse ele: 

"A humanidade se assemelha aos cães, não aos deuses — se você não ficar zangado eles vão lhe morder – mas fique bravo e você nunca será mordido. Os cães não respeitam humildade e tristeza."


"Ofereça a eles aquilo que mais desejam secretamente; é claro que entrarão em pânico imediatamente." 

...

SAUDAÇÕES...


Não estou aqui para me desculpar, isso seria muita embriaguez de formalidade... Estou aqui apenas para  te encontrar.
Dizem  por aí que achamos tudo o que procuramos, mas porque temos que procurar pra achar?
Você me achou quase sem querer, eu te procurei, mas isso foi depois, depois de eu ter encontrado você...
Foi uma ótima procura, e as pessoas sentiram o que eu queria... Novamente sensibilizaram na hora errada.
Depois de tudo, da localização, da inflamação, me debruço sobre teus pelos, implorando pra que essa distância que eu resolvi anunciar, não tenha enfim te levado para outro seio, para outra cesta...
Nossas mãos se tocam... você não me protege das ruas movimentadas, nem dos pesadelos, você me protege assim, longe ao meu lado, trazendo dois toques, frios, de terço em terço, dos seus olhares adormecidos.
Assim eu só consigo molhar mais teus lençóis...
Boa noite.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Pontos de Vista sobre um Curinga

Pobre curinga, não passa de um colecionador de instantes.
Dentre tantos, o de menos importância.
Na desprezível função de tapa buracos.
Bobo da corte,
lança no mundo teus risos dissimulados.
Poeta de fascínio trágico.
Colecionador de adeuses e  ilusões.
Nunca caberá mostrar o quão grande é teu coração pra uma dama.
Não passa de uma escolha efêmera.
Não se figura a nenhum naipe.
Se jogada não combina
logo será descartado do jogo.
O curinga pertence a corações vazios  
e a uma vontade sem fim de ser,
de se sentir no mundo.
Mas é apenas um palhaço em seu universo imaginário
e nada mudará sua situação de tapa buracos
Recolhido na caixa de baralho,
o curinga se permite chorar.
É dentro de si que se abre uma janela para os sonhos.
Beleza rara que se vê da solidão.
Eis o seu patrimônio, caro joker.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Os Sinos

I

Escuta: nos renós tilintam sinos
argentinos!
Ah! que de mundo de alegria o som cantante prenuncia!
Como tinem, lindo, lindo,
no ar da noite fria e bela!
Vão tinindo e o céu inteiro se constela,
florescente, refulgindo
com deleites cristalinos!
Dão ao Tempo uma cadência tão constante
como um rúnico descante,
com os tintinabulares, pequeninos sons, bem finos,
que nascendo vão dos sinos,
sim, dos sinos, sim, dos sinos,
saltitantes, bimbalhantes, dentre os sinos.

II

Escuta: em núpcias vão cantando os sinos,
áureos sinos!
Quantos mundos de ventura seu tanger nos prefigura!
No ar da noite, embalsamado,
como entoam seu enlevo abençoado!
Tons dourados, lentas notas
concordantes...
E tão límpido poema aí flutua
para as rolas que o escutam, divagantes,
vendo a lua!
Volumoso, vem das celas retumbantes
todo um jorro de eufonia
que se amplia,
"O futuro é belo e bom!"
- clama o som,
que arrebata, com em êxtases divinos,
no balanço repicante que lá soa,
que tão bem, tão bem ecoa
na vibrante voz dos sinos, sinos, sinos,
carrilhões e sinos, sinos,
no rimado, consonante som dos sinos.

III

Escuta: em longo alarma bradam sinos,
brônzeos sinos!
Ah! que história de agonia, turbulenta, se anuncia!
Treme a noite, com pavor,
quando os ouve em seu bramido assustador.
Tanto é o medo que, incapazes de falar,
se limitam a gritar,
em tons frouxos, desiguais,
clamorosos, apelando por clemência ao surdo fogo,
contendendo loucamente com o frenesi do fogo,
que se lança bem mais alto,
que em desejo audaz estua
de, no empenho resoluto de algum salto
(sim! agora ou nunca mais!),
alcançar a fronte pálida da lua!
Oh! os sinos, sinos, sinos!
De que lenda pavorosa, de alarmar,
falam tanto?
Clangorantes, ululantes, graves, finos,
quanto espanto vertem, quanto,
no fremente seio do ar!
E por eles bem a gente sabe - ouvindo
seu tinido,
seu bramido -
se o perigo é vindo ou findo.
Bem distintamente o ouvido reconhece
pela luta,
na disputa,
se o perigo morre ou cresce,
pela ampliante ou descrescente voz colérica dos sinos,
badalante voz dos sinos,
sim, dos sinos, sim, dos sinos,
do clamor e do clangor que vêm dos sinos!

IV

Escuta: dobram, lentamente, os sinos,
férreos sinos!
Ah! que mundo pensares tão solenes põem nos ares!
Na silente noite fria,
quando a alma se arrepia
à ameaça desse canto melancólico de espanto!
Pois em cada som saído
da garganta enferrujada
há um gemido!
E os sineiros (ah! essa gente
que, habitando o campanário
solitário,
vai dobrando, badalando a redobrada
voz monótona e envolvente...),
quão ufanos ficam eles, quando vão
tombar pedras sobre o humano coração!
Nem mulher nem homem são,
nem são feras: nada mais
do que seres fantasmais.
E é seu Rei quem assim tange,
é quem tange, e dobra, e tange.
E reboa
triunfal, do sino, a loa!
E seu peito de ventura se intumesce
com os hinos funerários lá dos sinos;
dança, ulula, e bem parece
ter o Tempo num compasso tão constante
qual de rúnico descante,
pelos hinos lá dos sinos!
Ah! dos sinos!
Leva o Tempo num compasso tão constante
como em rúnico descante,
pela pulsação dos sinos,
a plangente voz dos sinos,
pelo soluçar dos sinos!
Leva o Tempo num compasso tão constante,
que a dobrar se sente, ovante,
bem feliz esse rúnico descante,
com o reboar que vem dos sinos,
a gemente voz dos sinos,
o clamor que sai dos sinos,
a alucinação dos sinos,
o angustioso,
lamentoso, lutuoso som dos sinos!

 (Edgar Allan Põe)